É com pesar que comunico o falecimento do grande profissional e amigo Evandro Carnaval Barroso .
WAS
Por : Xavier Neto
A Fenapef comunica o falecimento do servidor aposentado, associado Agente Federal Evandro Carnaval Barroso, ocorrido neste sábado, 20 de dezembro, no Rio de Janeiro. O APF Evandro estava internado já há algum tempo em um hospital da capital carioca.
Muito dinâmico, o Agente Federal Evandro foi o idealizador do COT (Comando de Operações Táticas) e, anos depois, idealizou a CAOP - Coordenação de Aviação Operacional. Em nome dos associados, colegas e amigos do Evandro, a diretoria da Diref solidariza-se com a família e apresenta os seus sentimentos de profundo pesar.
Conheça um pouco mais da história deste valoroso policial, contada pela também Agente Federal Monica Lacerda.
COMANDO DE OPERAÇÕES TÁTICAS - DA CONCEPÇÃO AO NASCIMENTO
- Por Mônica Lacerda (APF) - 26/11/2007
''Há algumas coisas que é preciso crer para ver. Ralph Hodgson
Partirei do entendimento de que da estrutura do intelecto, por meio do seu sistema cognitivo, chega-se ao processo ideacional e, para obter-se a idéia, é preciso o conhecimento, e da idéia pode-se construir um SONHO. Um sonho que poderá diferenciar-se de outro, quando é adornado com determinação e esperança no poder intrínseco de “fazer acontecer .
Refiro-me ao sonho de um colega chamado EVANDRO CARNAVAL BARROSO, Agente de Polícia Federal (APF), que se converteu em realidade - o Comando de Operações Táticas (COT). A matéria-prima para esse sonho veio de seu interesse pelo tema “Comandos Táticos espalhados pelo mundo. Desde a mais tenra idade, ele se dedicava a leituras, pesquisas, compilações, daí a idéia de, um dia, apresentar ao Departamento de Polícia Federal (DPF) um projeto de criação de um Comando de Operações Táticas, para atuar em operações de alto risco e no combate a ações terroristas em todas as suas formas e com capacidade operacional em todo território nacional.
Em 1983, como esposa desse visionário colega, ao cuidar da tarefa doméstica de arrumação de gavetas e estantes, tive acesso aos seus escritos, guardados de maneira muito especial. Uma pasta tratava de um projeto de proteção ambiental ao Pantanal Mato-Grossense e outro, ainda de próprio punho, dissertava sobre a criação de um Grupo-Comando de Operações Táticas (GCOT) no DPF. Nesse mesmo ano, uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) consultava o DPF, por meio do Ministério da Justiça, sobre apossibilidade da criação de um grupo de combate a ações terroristas, como seqüestro de aeronaves e atentados a bombas.
Ao final de 1984, pude acompanhar as idas e vindas de ofícios sobre o assunto, em razão de minha lotação na Coordenação Central Policial (CCP), hoje DIREX, coordenada na época pelo Delegado Raimundo Cardoso Mariz - uma figura inesquecível como chefe e líder. Com altíssimo grau de capacidade profissional, dirigiu executivamente o DPF, sempre com denodo, seriedade e competência, merecendo respeito e admiração dos seus subordinados. Nos debates sobre a criação de um grupo tático eram muitas as explicitações de dificuldades e até das impossibilidades para o atendimento imediato. E foi nessa oportunidade que comentei sobre a existência de um projeto preliminar confeccionado pelo agente Evandro. Assim, a partir dessa época, foi possível a administração começar a vislumbrar essa possibilidade.
Em princípio de 1987, após o Evandro ter concluído o Curso de Operações (C2) da ESNI/SNI, o então CCP, Raimundo Mariz, com o aval do Diretor-Geral da época, Dr. Romeu Tuma, deu-lhe a missão de apresentar o projeto preliminar e, efetivamente, iniciar a sua implantação. A partir desse momento, inicia-se a realização de um sonho, até então solitário. Nesse projeto, já havia os fundamentos, os objetivos, método de recrutamento de pessoal, os códigos de comunicação eletrônica, tipo de armamento e viaturas, os cursos necessários - pára-quedismo, sobrevivência em selva, tiro, operações anti-guerrilha, guerrilha, etc. -, como também o croqui de edificação da base. Nessa fase, por sua sugestão, aliam-se a ele os APFs Nélson Nascimento e Antonio Queiroz e mais o Instrutor de tiro, formação snipers e táticas operacionais, Alberto Coury (o Gafanha), um patriota, idealizador e também visionário que possibilitou o alcance de muitos pleitos. Instalaram-se em uma sala da Divisão de Polícia Fazendária, no 7º andar do Edifício Sede do DPF, para, juntos, concatenar e formatar definitivamente o projeto, sob a batuta do Dr. Raimundo Mariz. Eram alvos permanentes de especulações e até de gozações de outros colegas. Mas, enfrentaram o desafio.
Vivi o privilégio de assistir, em minha casa, à laboriosa tarefa de transposição de uma águia, estampada como marca em uma caixa de munição Eagle e de um fuzil M16/Kit Loucher de uma revista de armas, para um papel e, assim, compor o emblema do COT. A águia segurando em suas garras um fuzil, na idéia do autor (Evandro), significava o apoio aéreo (helicóptero) - o ar apoiando a terra -, que depois viria, no seguimento ideológico, a ser a criação da Divisão de Aviação Operacional (DAOP), que seria uma outra história. Assim, foi criado o emblema. Da mesma maneira, o lema: “À Pátria, a vida, e ao DPF, o COT - que retratou toda a força substancial de um sonho.
Em 1988, foi entregue o croqui preliminar da base do futuro COT ao setor de engenharia e arquitetura do DPF. Ao final desse ano, o grupo inicial já era composto por mais alguns colegas, como os APFs Avelino, Vinícius, Noslen, um fiel aliado deste sonho e, logo em seguida, Machado, Márcio, Luiz Augusto. Outros também foram recrutados depois, como o EPF Carvalho (hoje falecido) e o APF Daniel Lorenz (hoje Delegado), parceiro como sniper do também sniper Evandro. Em 1989, tomou posse o primeiro chefe do comando, o DPF Carlos Bernardes, tendo ainda como substituto o idealizador Evandro. Salvo engano, ao final deste mesmo ano, somou-se ao Grupo o DPF Daniel Sampaio, que, após a aposentadoria do Comandante Chefe, comandou o COT até poucos anos atrás, construindo uma positiva e criativa trajetória.
Tenho em mente o desafio que esse grupo enfrentou, como a rejeição e os preconceitos de alguns seguimentos do DPF com relação a tudo que surge revestido de novidades promissoras. Foram também heróis pelos infindáveis finais de semana e feriados longe da família, para os exaustivos treinamentos. Alguns, pressionados pela família, tiveram de abandonar o lema. A maioria, com prejuízos familiares ou não, seguiu em frente. Assim, em 1990, o COT, que já atuava, efetiva e eficazmente, em missões de grande risco, como o seqüestro de aeronaves, perigosas incursões em área totalmente inóspita para nós, que temos outro tipo de formação e capacitação. Para isso, tinha sido criado o COT.
Originalmente eram 22 policiais, sendo um delegado, 20 agentes e um escrivão, preparados para agir em todo o território nacional em situações as mais diversas e adversas, sempre que fossem solicitados. Tinham sempre condições de evitar ou minimizar qualquer situação de alto risco à vida e ao patrimônio nacional. Preparados para transpor as intempéries do tempo e das necessidades básicas de sobrevivência humana. Preparados para capturar e/ou neutralizar qualquer oponente. A base fundamental para esse desempenho era a unidade do grupo, a hierarquia, a disciplina e a lealdade.
Centrando-me novamente no seu idealizador, confesso que o observava enquanto ele contemplava, sempre em silêncio e em rara introspecção, sua idéia no momento da inauguração, no mês de março de 1990, como parte oficial do organograma da Polícia Federal. O seu sonho tomando vida própria. Agora sob a direção de outros colegas, o que, claro, era também previsto. A essa altura, já havia até um negociador em caso de sequestro, o Censor (na época) Salignac, este como terceiro chefe no comando. Na espera de ver seu sonho tornar-se realidade, ele estava na espreita para sua discreta saída.
Estive presente e testemunhei uma discreta lágrima correr em sua face. Esta lágrima era de contentamento, de orgulho desprovido de qualquer vaidade. E, neste mesmo silêncio, sem nenhuma manifestação especial por parte de quem saía e de quem ficava, ele retirou-se, em 1992. Como nobre iniciativa, particular, de Alberto Coury, ainda na época instrutor do COT, recebi, como esposa, assim como quem recebe um símbolo de homenagem póstuma, uma réplica da águia em bronze, emblema do COT, que guardo como o mais honrado dos troféus. Sabia este agente da necessidade, em vez de elogios metafóricos, de demonstração das falhas, pois só assim tudo se aperfeiçoa. Quando todos juntos se transformam em uma verdadeira equipe - todos por um e um por todos -, é que se edifica e se fortalece o que já nasceu.
No entanto, digo que, muitas vezes, a vontade de fazer uma crítica deve ser superada pela necessidade de fazer um elogio. Não tenho a pretensão de ser retórica para cooptar admiração e notoriedade dos demais colegas em relação ao mencionado agente, até porque este não o permitiria pela sua notável humildade. Aqui também não pretendi falar sobre desempenho, trajetória e desenvolvimento atual do COT. Muito menos sobre ressalvas. A intenção foi narrar sobre a idéia, os sonhos e a determinação de um anônimo. Apenas narrei fatos históricos que justificam os fins. Como testemunha, não poderia ser silente sobre o arrojo e a determinação desse colega, compactuando com a não intencional, é claro, omissão desse reconhecimento.
A consideração histórica do COT, presente nas falas em ocasião de posses ou eventos de aniversário, jamais me regozijou com uma menção, por mais tímida e discreta que fosse, a esse APF. Como também nunca vi uma foto no mural ou na galeria da sede do COT seja como um dos fundadores seja mesmo como ex-integrante. Reconheço também que perdemos nossa identidade, quando fazemos com prazer de idealizadores e/ou de realizadores de algum feito, quando este feito se integra ao bem maior, que é nossa Instituição. Tudo que fazemos com êxito, é claro, passa a ser integrado e fundido ao bem maior, que é a grande mãe Polícia Federal. Assim tudo se torna obrigação do filho por causa do nosso amor incondicional. No entanto, nem sempre tenho certeza dessa consciência coletiva, pois uns são aclamados e outros não, isso como pratica comum em nossa vida policial. Não quero que paire sobre mim a erma sombra da ingratidão.
Também tenho a intenção de afirmar que o mais importante é continuarmos a sonhar. Sonhar e intuir, pois o salto intuitivo para a criação seja do que for é um ato de muita coragem. “O vínculo entre intuição, imaginação e criatividade sempre foi muito forte (Schultz, Ron, Sabedoria e intuição, p. 171). A criatividade, muitas vezes, marca a diferença entre os que lideram e os que apenas administram, o que também exige sabedoria.
Ao compartilhar esta história que guardo na memória, homenageio não somente o APF Evandro, como também a todos os comandos aqui citados e àqueles de que, por descuido, tenha-me esquecido. Complementando, cito uma frase de Peter M. Senger: “A equipe que ficou perfeita não começou perfeita - ela aprendeu a produzir resultados extraordinários . E, para finalizar, aconselho a todos que tenham uma idéia, um sonho a arriscarem-se a torná-lo realidade. Subverta a ordem natural das dificuldades e adversidades. Não hesite, ao menos, em sugerir. Sonhar sempre, pois, se desistirmos disso, apagar-se-á a ultima claridade e nada mais valerá a pena. “Num mundo incerto, não há fórmulas claras de seqüência de passos que garantam resultados positivos. (R. Peke) Por isso, ao menos, tente.
Parabéns, Evandro! Obrigada!
- Por Mônica Lacerda (APF) - 26/11/2007
''Há algumas coisas que é preciso crer para ver. Ralph Hodgson
Partirei do entendimento de que da estrutura do intelecto, por meio do seu sistema cognitivo, chega-se ao processo ideacional e, para obter-se a idéia, é preciso o conhecimento, e da idéia pode-se construir um SONHO. Um sonho que poderá diferenciar-se de outro, quando é adornado com determinação e esperança no poder intrínseco de “fazer acontecer .
Refiro-me ao sonho de um colega chamado EVANDRO CARNAVAL BARROSO, Agente de Polícia Federal (APF), que se converteu em realidade - o Comando de Operações Táticas (COT). A matéria-prima para esse sonho veio de seu interesse pelo tema “Comandos Táticos espalhados pelo mundo. Desde a mais tenra idade, ele se dedicava a leituras, pesquisas, compilações, daí a idéia de, um dia, apresentar ao Departamento de Polícia Federal (DPF) um projeto de criação de um Comando de Operações Táticas, para atuar em operações de alto risco e no combate a ações terroristas em todas as suas formas e com capacidade operacional em todo território nacional.
Em 1983, como esposa desse visionário colega, ao cuidar da tarefa doméstica de arrumação de gavetas e estantes, tive acesso aos seus escritos, guardados de maneira muito especial. Uma pasta tratava de um projeto de proteção ambiental ao Pantanal Mato-Grossense e outro, ainda de próprio punho, dissertava sobre a criação de um Grupo-Comando de Operações Táticas (GCOT) no DPF. Nesse mesmo ano, uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) consultava o DPF, por meio do Ministério da Justiça, sobre apossibilidade da criação de um grupo de combate a ações terroristas, como seqüestro de aeronaves e atentados a bombas.
Ao final de 1984, pude acompanhar as idas e vindas de ofícios sobre o assunto, em razão de minha lotação na Coordenação Central Policial (CCP), hoje DIREX, coordenada na época pelo Delegado Raimundo Cardoso Mariz - uma figura inesquecível como chefe e líder. Com altíssimo grau de capacidade profissional, dirigiu executivamente o DPF, sempre com denodo, seriedade e competência, merecendo respeito e admiração dos seus subordinados. Nos debates sobre a criação de um grupo tático eram muitas as explicitações de dificuldades e até das impossibilidades para o atendimento imediato. E foi nessa oportunidade que comentei sobre a existência de um projeto preliminar confeccionado pelo agente Evandro. Assim, a partir dessa época, foi possível a administração começar a vislumbrar essa possibilidade.
Em princípio de 1987, após o Evandro ter concluído o Curso de Operações (C2) da ESNI/SNI, o então CCP, Raimundo Mariz, com o aval do Diretor-Geral da época, Dr. Romeu Tuma, deu-lhe a missão de apresentar o projeto preliminar e, efetivamente, iniciar a sua implantação. A partir desse momento, inicia-se a realização de um sonho, até então solitário. Nesse projeto, já havia os fundamentos, os objetivos, método de recrutamento de pessoal, os códigos de comunicação eletrônica, tipo de armamento e viaturas, os cursos necessários - pára-quedismo, sobrevivência em selva, tiro, operações anti-guerrilha, guerrilha, etc. -, como também o croqui de edificação da base. Nessa fase, por sua sugestão, aliam-se a ele os APFs Nélson Nascimento e Antonio Queiroz e mais o Instrutor de tiro, formação snipers e táticas operacionais, Alberto Coury (o Gafanha), um patriota, idealizador e também visionário que possibilitou o alcance de muitos pleitos. Instalaram-se em uma sala da Divisão de Polícia Fazendária, no 7º andar do Edifício Sede do DPF, para, juntos, concatenar e formatar definitivamente o projeto, sob a batuta do Dr. Raimundo Mariz. Eram alvos permanentes de especulações e até de gozações de outros colegas. Mas, enfrentaram o desafio.
Vivi o privilégio de assistir, em minha casa, à laboriosa tarefa de transposição de uma águia, estampada como marca em uma caixa de munição Eagle e de um fuzil M16/Kit Loucher de uma revista de armas, para um papel e, assim, compor o emblema do COT. A águia segurando em suas garras um fuzil, na idéia do autor (Evandro), significava o apoio aéreo (helicóptero) - o ar apoiando a terra -, que depois viria, no seguimento ideológico, a ser a criação da Divisão de Aviação Operacional (DAOP), que seria uma outra história. Assim, foi criado o emblema. Da mesma maneira, o lema: “À Pátria, a vida, e ao DPF, o COT - que retratou toda a força substancial de um sonho.
Em 1988, foi entregue o croqui preliminar da base do futuro COT ao setor de engenharia e arquitetura do DPF. Ao final desse ano, o grupo inicial já era composto por mais alguns colegas, como os APFs Avelino, Vinícius, Noslen, um fiel aliado deste sonho e, logo em seguida, Machado, Márcio, Luiz Augusto. Outros também foram recrutados depois, como o EPF Carvalho (hoje falecido) e o APF Daniel Lorenz (hoje Delegado), parceiro como sniper do também sniper Evandro. Em 1989, tomou posse o primeiro chefe do comando, o DPF Carlos Bernardes, tendo ainda como substituto o idealizador Evandro. Salvo engano, ao final deste mesmo ano, somou-se ao Grupo o DPF Daniel Sampaio, que, após a aposentadoria do Comandante Chefe, comandou o COT até poucos anos atrás, construindo uma positiva e criativa trajetória.
Tenho em mente o desafio que esse grupo enfrentou, como a rejeição e os preconceitos de alguns seguimentos do DPF com relação a tudo que surge revestido de novidades promissoras. Foram também heróis pelos infindáveis finais de semana e feriados longe da família, para os exaustivos treinamentos. Alguns, pressionados pela família, tiveram de abandonar o lema. A maioria, com prejuízos familiares ou não, seguiu em frente. Assim, em 1990, o COT, que já atuava, efetiva e eficazmente, em missões de grande risco, como o seqüestro de aeronaves, perigosas incursões em área totalmente inóspita para nós, que temos outro tipo de formação e capacitação. Para isso, tinha sido criado o COT.
Originalmente eram 22 policiais, sendo um delegado, 20 agentes e um escrivão, preparados para agir em todo o território nacional em situações as mais diversas e adversas, sempre que fossem solicitados. Tinham sempre condições de evitar ou minimizar qualquer situação de alto risco à vida e ao patrimônio nacional. Preparados para transpor as intempéries do tempo e das necessidades básicas de sobrevivência humana. Preparados para capturar e/ou neutralizar qualquer oponente. A base fundamental para esse desempenho era a unidade do grupo, a hierarquia, a disciplina e a lealdade.
Centrando-me novamente no seu idealizador, confesso que o observava enquanto ele contemplava, sempre em silêncio e em rara introspecção, sua idéia no momento da inauguração, no mês de março de 1990, como parte oficial do organograma da Polícia Federal. O seu sonho tomando vida própria. Agora sob a direção de outros colegas, o que, claro, era também previsto. A essa altura, já havia até um negociador em caso de sequestro, o Censor (na época) Salignac, este como terceiro chefe no comando. Na espera de ver seu sonho tornar-se realidade, ele estava na espreita para sua discreta saída.
Estive presente e testemunhei uma discreta lágrima correr em sua face. Esta lágrima era de contentamento, de orgulho desprovido de qualquer vaidade. E, neste mesmo silêncio, sem nenhuma manifestação especial por parte de quem saía e de quem ficava, ele retirou-se, em 1992. Como nobre iniciativa, particular, de Alberto Coury, ainda na época instrutor do COT, recebi, como esposa, assim como quem recebe um símbolo de homenagem póstuma, uma réplica da águia em bronze, emblema do COT, que guardo como o mais honrado dos troféus. Sabia este agente da necessidade, em vez de elogios metafóricos, de demonstração das falhas, pois só assim tudo se aperfeiçoa. Quando todos juntos se transformam em uma verdadeira equipe - todos por um e um por todos -, é que se edifica e se fortalece o que já nasceu.
No entanto, digo que, muitas vezes, a vontade de fazer uma crítica deve ser superada pela necessidade de fazer um elogio. Não tenho a pretensão de ser retórica para cooptar admiração e notoriedade dos demais colegas em relação ao mencionado agente, até porque este não o permitiria pela sua notável humildade. Aqui também não pretendi falar sobre desempenho, trajetória e desenvolvimento atual do COT. Muito menos sobre ressalvas. A intenção foi narrar sobre a idéia, os sonhos e a determinação de um anônimo. Apenas narrei fatos históricos que justificam os fins. Como testemunha, não poderia ser silente sobre o arrojo e a determinação desse colega, compactuando com a não intencional, é claro, omissão desse reconhecimento.
A consideração histórica do COT, presente nas falas em ocasião de posses ou eventos de aniversário, jamais me regozijou com uma menção, por mais tímida e discreta que fosse, a esse APF. Como também nunca vi uma foto no mural ou na galeria da sede do COT seja como um dos fundadores seja mesmo como ex-integrante. Reconheço também que perdemos nossa identidade, quando fazemos com prazer de idealizadores e/ou de realizadores de algum feito, quando este feito se integra ao bem maior, que é nossa Instituição. Tudo que fazemos com êxito, é claro, passa a ser integrado e fundido ao bem maior, que é a grande mãe Polícia Federal. Assim tudo se torna obrigação do filho por causa do nosso amor incondicional. No entanto, nem sempre tenho certeza dessa consciência coletiva, pois uns são aclamados e outros não, isso como pratica comum em nossa vida policial. Não quero que paire sobre mim a erma sombra da ingratidão.
Também tenho a intenção de afirmar que o mais importante é continuarmos a sonhar. Sonhar e intuir, pois o salto intuitivo para a criação seja do que for é um ato de muita coragem. “O vínculo entre intuição, imaginação e criatividade sempre foi muito forte (Schultz, Ron, Sabedoria e intuição, p. 171). A criatividade, muitas vezes, marca a diferença entre os que lideram e os que apenas administram, o que também exige sabedoria.
Ao compartilhar esta história que guardo na memória, homenageio não somente o APF Evandro, como também a todos os comandos aqui citados e àqueles de que, por descuido, tenha-me esquecido. Complementando, cito uma frase de Peter M. Senger: “A equipe que ficou perfeita não começou perfeita - ela aprendeu a produzir resultados extraordinários . E, para finalizar, aconselho a todos que tenham uma idéia, um sonho a arriscarem-se a torná-lo realidade. Subverta a ordem natural das dificuldades e adversidades. Não hesite, ao menos, em sugerir. Sonhar sempre, pois, se desistirmos disso, apagar-se-á a ultima claridade e nada mais valerá a pena. “Num mundo incerto, não há fórmulas claras de seqüência de passos que garantam resultados positivos. (R. Peke) Por isso, ao menos, tente.
Parabéns, Evandro! Obrigada!
Fonte: FENAPEF